Obs.: No texto deve ter alguns errinhos de digitação e concordância. Se você for ler, por favor ignore. Preferi não corrigir porque isso foi só uma coisa que saiu de mim e que eu não encontrei forças para editar/corrigir.
Quem nunca se odiou que atire a primeira pedra...
Quem nunca se odiou que atire a primeira pedra...
Eu sempre tive problemas comigo mesma, sérios problemas que começaram as 14 e que me assombram até os dias atuais. Só que hoje, na maioria das vezes, consigo levantar a cabeça e ver que sou mais forte que isso. Quando eu tinha 14 anos, aquela idade que seus hormônios começam a ficar loucas e que você deixa de ser uma criança feliz e passa a ficar preocupada com o que os outros vão pensar (digo 14 anos porque comigo foi nessa idade, mas sei que existem outras pessoas que isso aconteceu bem antes). Eu me olhava no espelho e não gostava do que via, era como se a minha imagem não fosse suficiente para o que eu queria ser. Ficava observando as outras meninas, tinha inveja dos seus cabelos lisos, macios e cheios de brilho. Enquanto o meu era um emaranhado de cachos que criavam vida durante a noite. Sempre ficava imaginando, o quão bom seria não ter que me preocupar com meu cabelo.
Acontece que o cabelo não era meu única problema. Minha família paterna tem um "probleminha", a maioria estão um pouco acima do peso. Acho que deve ser alguma coisa genética, não sei explicar. Eu nasci com esse "probleminha" e isso me deixava triste, porque meus primos maternos eram todos magros e eu era a única gordinha entre eles. Na verdade eu era a gordinha em todo lugar que eu ia e isso não me deixava feliz. Hoje eu sei que eu não era gorda, só tinha umas dobrinhas aqui e ali ( o que quase todo ser humano tem). Lembro que eu tinha muita vontade de emagrecer, mas nunca consegui, pois não como carne e algumas outras coisas, o que torna a minha alimentação muito limitada, isso é assim até hoje ( eu sei que eu devia me alimentar melhor, mas não sou assim porque quero. Existem algumas coisas que eu simplesmente não consigo comer sem o estomago embrulhar e eu vomitar tudo). Por esse motivo nunca consegui fazer uma dieta e isso me deixava triste.
Eu me achava feia e gorda, agora ligue isso a uma adolescente de 14 anos que está com os hormônios a flor da pele. Você vai ter uma menina de auto estima baixa que não vai se valorizar nem se achar suficiente. Quem vai querer namorar uma gorda? Era o que mais girava na minha cabeça e eu ficava envergonhada toda vez que um menino chegava em mim, sempre achava que ele estava curtindo com a minha cara. Fiquei com alguns meninos durante a minha vida, não é uma lista muito grande o problema é que só dois não se tornaram arrependimentos. Não me orgulho disso. Você já se imaginou na seguinte situação: beijar alguém que você nunca beijaria, mas beijou porque se não fosse ele (na sua cabeça) não teria outra pessoa que ia querer. Essa era a minha sina.
Lembro que nessa época eu fazia aula de flauta, era ótimo, mas eu morria de medo de um dia ter que apresentar. Certo dia, minha professora me chamou e conversou comigo, perguntou por que eu sentava e abraçava a minha barriga? Fiquei muito envergonhada, sempre achei que ninguém descobriria a minha tática infalível de esconder as minhas dobras. Droga. Ela fez um discurso enorme, dizendo que eu era linda, que não deveria ter vergonha porque eu não era gorda e que eu iria fazer uma apresentação no próximo mês e deveria usar um vestido lindo enquanto tocava a música que nós estávamos ensaiando. Acho que foi nesse momento que a ansiedade achou uma forma de entrar na minha vida. Nunca tinha botado o pé em um palco, mentira, eu já havia subido em um palco, mas não sozinha. Teria que tocar para uma multidão, sozinha, todos olhando para mim, era demais. Abandonei a aula e acredito que essa foi a primeira vez que perdi a oportunidade de ter uma lembrança incrível por causa do meu desamor. Eu sentia que eu não seria capaz de apresentar sozinha. Fui muito burra. Eu sei.
O tempo passou e eu comecei a cuidar do meu cabelo da forma correta. A minha vontade de estar sempre linda para os outros estava me estragando toda. Eu lavava meu cabelo todo dia e por isso ele quebrou, meus cachos ficaram feios e eu só me sentia mais feia. Só que então eu encontrei uma fada madrinha (desculpa pela quantidade absurda de eus. Não vou corrigir porque isso aqui não é para ser um texto bem feito. É só um desabafo). Essa fada madrinha me apresentou a escova progressiva, a forma de deixar meus cabelos lisos, tudo que eu sempre sonhei. Lembro que eu ficava horas no salão enquanto ela passava aquele troço na minha cabeça. O produto queimava meu couro cabeludo, fazia meus olhos ficarem vermelhos e lacrimejarem, meu nariz ficava entupido e minha rinite atacava. Mas saúde não importa. Tudo vale para ficar bonita! Era o que eu pensava. Quando o efeito da progressiva acabava, ou melhor, quando meu cabelo crescia, eu ficava louca desesperada. Não suportava sentir ondinhas na minha cabeça, aquilo era o fim. Não podia sair na rua se não estivesse com maquiagem (fiquei um mês com alergia de delineador). Gostava de ser artificial de do poder que aquelas coisas (que me prejudicava) me dava.
O ensino médio acabou e levou consigo todos os meus sonhos de adolescência. Entrei numa faculdade, me orgulho disso apesar de tudo. Talvez seja a única coisa que me orgulho daquela época. 2013 não foi um ano fácil. Muitas mudanças (ambientes, pessoas). Vi meus amigos cada vez mais distante, eu estava sozinha, só eu e eu mesma. Naquela época eu devia ter procurado terapia. Hoje tenho certeza disso. Fiquei cada vez mais triste, cada vez mais insegura, me odiava cada vez mais. A ansiedade ganhou mais força e o prazer que antes eu tinha em conversas com minhas amigas, ou quando eu assistia a marimoon na mtv, passou para a comida. Comer causa um prazer momentâneo, e ele se esvai tão rápido que você precisa comer mais e mais. Antes eu vestia 38 fui para o 42 num pulo. A auto estima virou baixa estima mesmo.
Se 2013 foi ruim, 2014 foi o verdadeiro inferno. De longe um dos piores anos da minha vida, só perde para 2017 ( mas não vamos falar dele agora). 2014 me jogou no chão, pisou em mim e mostrou tudo de ruim que pode acontecer com uma pessoa que não é forte e não se ama. Eu queria emagrecer, queria que meu namorado tivesse a namorada perfeita, ou melhor, queria me sentir perfeita e não ser mais insegura (sempre achei que ia chegar uma magrinha e levar ele de mim). Lembram do fato de não conseguir emagrecer porque não como de tudo. Pois é. Entrei na academia ( acho que foi meu maior fracasso). Eu odiava tudo aqui, se você já foi em uma academia vai entender o que estou dizendo. Aquilo é um ambiente terrível para uma pessoa de baixa auto estima. Pessoas com corpos bonitos (pelo menos era a única coisa que eu consegui enxergar) enquanto você é só um ninguém ali tentando alcançar um objetivo que nunca chega. Gastei horrores com aquilo e não deu em nada, abandonei e encontrei um caminho mais fácil. Lembro que quando eu estava na oitava série a professora passou um texto sobre anorexia e bulimia. Mesmo eu me achando feia e gorda, eu não conseguia entender como uma pessoa consegue se entregar a uma doença tão idiota. Aquilo não fazia sentido pra mim até fevereiro de 2014. Criei um perfil fake no facebook, entrei num grupo de anorexia e bulimia e comecei a minha jornada para se tornar uma pessoa magra.
Se você acessasse o meu pc naquela época, ia encontrar uma pasta cheia de fotos de meninas magérrimas. Hyuna era a minha maior inspiração, eu queria ser magra e linda como ela. Queria ter espaço entre as pernas e ficava imaginando como a vida ia ser linda quando eu fosse magra. Quanta ilusão. Acredite ou não, eu controlava a quantidade da carboidratos consumidos por dia, o máximo era 300 e se passasse disso teria que vomitar tudo ( eu também vomitava os 300 então não fazia muita diferença). A princípio acreditei que nunca ia conseguir fazer parte do grupinho da ana e mia, pq eu sempre acabava comendo, mesmo que pouco. Mas cheguei ao ponto de chorar e me sentir horrível quando sentia que havia saciado a minha fome. Aquela dor que dá na barriga quando vc fica horas sem comer, se tornou prazerosa e eu me tornei uma pessoa cada vez mais triste. Não dormia, não comia, não fazia nada. Isso foi me destruindo aos poucos, por sorte eu vi a merda que tava fazendo depois de passar muito mal e vomitar sangue (desculpa por fazer você imaginar essa nojeira). Percebi que estava me matando, aos poucos mais estava.
Me tornei ansiosa, mais insegura e hoje não consigo tomar um remédio em comprimido sem passar mal depois que ele desce pela minha garganta ( eu tomava remédios para acelerar o meu metabolismo e isso não foi legal. A ideia era legal, mas eu abusei, fiquei sem comer. Se eu tivesse feito as coisas certas o remédio não teria me feito mal. Você que me deu eles, por favor não se sinta culpado por isso).
2015 foi um dos melhores anos, não tenho que reclamar. Formei na faculdade, me senti um pouco melhor comigo mesma e entrei em uma nova faculdade. Acho que foi o ano que eu me encontrei (não por completo). 2016 também foi bom, eu nem consigo me lembrar direito mais sei que foi. 2017 veio como uma grande banho de água fria. Eu finalmente percebi que tinha que deixar o passado para trás, deixar ir aquilo que não me pertencia mais e abraçar o novo que estava na minha frente. 22 anos você não é mais criança! Resolvi me deixar amadurecer, só que eu não estava preparada para isso e tudo foi por água a baixo. Sofri e como sofri. Pensei que as coisas nunca se resolveriam e que finalmente aquela coisa que ficava me atormentando ia acontecer (em 2014 enfiei em minha cabeça que eu não vou morrer de doença, velhice ou afins. Acreditava que ia chegar um dia que eu não ia me aguentar mais e iria acabar dando um fim em mim mesma). Meu pior aniversário de todos, aquele dia apesar de feliz foi péssimo. Aconteceram diversas decepções e eu descobri coisas que nunca pensei que fossem acontecer. Nunca estive tão sozinha e nunca chorei tanto. Acreditei que nunca mais seria feliz, ou melhor, teria novamente um pequeno surto de felicidade.
Mas hoje sei que tudo que vivi foi um aprendizado, doloroso, que deixou cicatrizes, que ainda me machuca. Porém foram aprendizados que me fizeram ser quem sou hoje e acredito que estou feliz por isso. Acho que finalmente me encontrei, mas não posso dizer isso com 100% de certeza porque não sei o dia de amanhã.
Cara Milena de 14 anos,
Não tenha vergonha do seu cabelo, ele é lindo. Você tem cabelos compridos e saudáveis. Não use químicas para alisa-lo, ou vai passar o resto de sua vida tentando fazer ele voltar a ser o que era antes. Transição capilar é uma porra e eu não quero que isso seja só mais um gatilho para você se sentir pior. Não tenha vergonha do seu corpo, você não é gorda, não é feia. Não existe isso de nunca vou arrumar um namorado porque sou feia. Ei, o mundo não gira ao redor dos homens, na verdade você não precisa de um namorado pra ser feliz, só precisa acreditar em si mesma e ir atrás dos seus sonhos. Vou te dar um spoiler: daqui uns dois anos você vai conhecer uma pessoa incrível, vai ser estranho a princípio, você vai ficar envergonhada e decepcionada consigo mesma, pois prometeu que não ia se deixar encantar mais por meninos que não estão à sua altura ( isso não existe, todo mundo tá na mesma altura, não seja boba!). Se aproxime dele, ele vai ser o seu motivo pra sorrir só que saiba como agir, não seja muito desesperada nem se deixe levar por coisas que estão na sua cabecinha confusa. As vezes é tudo ilusão, as vezes você tá pensando demais. Tente desacelerar, faça uma coisa de cada vez. Não seja individualista, pense nos outros também ( mas não muito, não coloque ninguém na sua frente, isso também é ruim). Acima de tudo, acredite em si mesma, lute por você mesma. Não fique atrás de ninguém. Você é capaz de coisas que nem imagina.
E o principal, fique bem...